A Associação Empresarial de Jaraguá do Sul e o Sebrae de Santa Catarina promoveram no dia 5/12 seminário que reuniu empreendedores e operadores dos segmentos ligados às cadeias produtivas de gastronomia e turismo, com o objetivo de estimular a integração e fortalecer os negócios nas regiões Norte e Nordeste do Estado.
Palestras temáticas sobre turismo de eventos e turismo de negócios, apresentação de case de sucesso no setor, e uma demonstração de preparo de alimentação à base de ingredientes regionais, buscaram debater cenários e tendências para o desenvolvimento econômico aproveitando as potencialidades dos dois segmentos.
O seminário de Gastronomia e Turismo marcou a conclusão do projeto Food Experience, iniciativa realizada em parceria entre a ACIJS e o Sebrae. Iniciado em fevereiro de 2017, durante 18 meses o projeto envolveu empreendedores em atividades de capacitação voltadas à maior profissionalização da gestão e visando a melhoria da competitividade. Um dos focos foi o incremento do conceito ‘alimentação fora do lar’, com uma agenda que contou com treinamentos que incluíram desde a preparação e a apresentação de pratos, fortalecimento de cardápios e a regionalização de menus, sustentabilidade financeira das empresas e um olhar para a integração dos negócios de gastronomia e turismo.
Cintia Buzian, líder do Núcleo de Hospitalidade da ACIJS, explica que o programa permitiu às empresas perceberem que de maneira conjunta podem alcançar melhores resultados. Com a participação de empresas como hotéis, panificadoras e confeitarias, bares e restaurantes, ela acredita que o projeto estimulou uma percepção de ganho coletivo. “Com a orientação de especialistas destas áreas, numa visão de associativismo, percebemos que sozinhos é mais fácil projetarmos os negócios, mas juntos podemos ser mais fortes”, acentua.
Milena de Freitas, gestora local do Sebrae no projeto Food Experience, destaca o envolvimento positivo das empresas com o objetivo de buscar capacitação que proporcione experiências diferenciadas com os clientes. “Fortalecer governanças, estabelecer novas parcerias, conhecer fornecedores e pensar o negócio de maneira conjunta, estimulando a colaboração entre a iniciativa privada e o poder público, permite agregar mais valor a toda a cadeia que envolve as áreas de gastronomia e de turismo”, afirma.
Com esta preocupação, o seminário contou com as presenças de especialistas.
Ivan Blumenschein, sócio-fundador da empresa Nugali Chocolates, falou sobre a criação de uma marca para o município de Pomerode, conhecida como “a pequena Alemanha no Brasil”. O empresário, que atua também no Conselho Municipal de Turismo e na Associação Visite Pomerode, explicou que a busca de um conceito para o município exigiu muito envolvimento de toda a comunidade.
“Pomerode já era conhecida por sua tradição, pela história, por ser uma cidade tranquila e bem cuidada, mas não conseguia comunicar estes valores, que são essenciais para o seu desenvolvimento econômico”, diz o empresário Ivan Blumenschein
Com o desenvolvimento de várias ações que vincularam o setor produtivo ao calendário de eventos e de turismo da cidade, a criação da marca e um selo de identificação dos produtos fabricados na região, Pomerode passou a ser uma referência ainda mais forte como destino turístico.
Luciana Thomé, consultora especializada em turismo, assinala que fortalecer vocações regionais é um caminho que as cidades devem seguir. Lembra que muitas vezes há equívocos quando se avalia as possibilidades de desenvolvimento do turismo, se deixando de lado valores que já estão presentes nas comunidades.
Setores fortes da indústria aliada a características naturais e uma gastronomia de qualidade, com um bom serviço ao cliente, são atrativos que segundo Luciana devem ser cada vez mais valorizados como forma de movimentar o turismo de negócios e o turismo de eventos.
“Turista não é só aquele que viaja a lazer, o turismo de negócios e o turismo de eventos estão muito associados e podem trabalhar juntos, tirando proveito da reputação que a cidade oferece. Uma vocação forte e consolidada é a alavanca para desenvolver outros segmentos”, observa Luciana Thomé
Esta estratégia deu certo no interior do Rio Grande do Sul com ações do Convention & Visitors Bureau de Gramado e Região das Hortênsias, disse o gerente de captação Régis Stuani. A atuação valorizando os atrativos e criando uma estrutura que integrasse não somente uma cidade, mas o seu entorno, fez com que a região se tornasse um dos principais polos do turismo de eventos e de negócios no Sul do Brasil.
“Não é preciso captar somente grandes eventos, podemos utilizar a estrutura de cada cidade realizando eventos menores, porque eles podem proporcionar um ticket médio elevado e dar sustentabilidade ao setor”, garante Régis Stuani
A criatividade para se reinventar também foi defendida pelo chef de cozinha e consultor em gestão de empresas de gastronomia Enio Valli. Para o especialista, em cenário de economia instável, o fortalecimento da gastronomia regional pode ser um meio de assegurar a sobrevivência do negócio alimentação.
Quando a situação econômica do Brasil estava aquecida, lembra, o setor crescia em média 9% ao ano, em 2016 esta taxa caiu para 4% e em 2017 chegou a 2,7%, enquanto no mesmo período, o turismo cresceu 5,5%. “O turismo garantiu que a queda no setor de gastronomia não fosse maior”, observa Enio Valli. Isto requer das empresas maior esforço para serem competitivas.
“O cenário poderia ser pior, embora haja uma queda no faturamento o setor pode crescer, e o turismo ainda é uma alavanca importante”, observa Enio Valli
Enio Valli aponta que o empresário de alimentação deve estar atento às tendências, como o aumento no uso de tecnologias nas operações de serviços, a adoção de cardápios mais enxutos (menos opções de pratos e preços mais atrativos), sugestões de alimentos mais saudáveis (ingredientes menos industrializados), entre outros aspectos.
Além da abordagem técnica, a programação também contou com a realização de um show cooking ministrado pela jornalista e chef Larissa Guerra, mostrando a importância do uso de ingredientes regionais nos cardápios
Dicas de Enio Valli
Tendências exigem atenção
O empresário de alimentação deve estar atento às tendências, como o aumento no uso de tecnologias nas operações de serviços, a adoção de cardápios mais enxutos (menos opções de pratos e preços mais atrativos), sugestões de alimentos mais saudáveis (ingredientes menos industrializados), entre outros aspectos. Diz Enio Valli: as pessoas não procuram uma casa para comer algo com gosto de plástico, querem comida de verdade, algo que traduza a alma do empreendimento.
Qualidade garante sobrevivência
Em 2016, comenta Enio Valli, 1 em cada três restaurantes brasileiros fecharam o ano com prejuízo, em 2017 1 em cada 4 e esta média deve continuar. Para o especialista, aproveitar as oportunidades que a cadeia do turismo oferece ao setor de gastronomia pode ser uma alavanca para a sustentabilidade de empreendimentos. Há várias oportunidades, basta ficar atento. Valorizar a culinária regional é um atributo essencial para fazer diferença no mercado e conquistar clientes engajados, que procuram novas experiências.
Pesquisa aponta o que o cliente deseja
Dados da pesquisa internacional Culinary Visions Panel
>>> 73% dos clientes querem mais alimentos funcionais (aqueles que ajudam o sistema digestivo)
>>> 83% dos clientes busca restaurantes mais comprometidos com a sustentabilidade ambiental
>>> 66% dos clientes querem pratos com mais proteínas
>>> 76% dos clientes dizem evitar menus com pratos menos saudáveis
>>> 66% dos clientes querem receitas (refeições, sobremesas e lanches) que lhes façam sentir-se bem
>>> 88% dos clientes querem mais frutas nos cardápios
>>> 87% dos clientes pedem bufês com mais vegetais