Influências externas como o conflito entre Rússia e Ucrânia, somadas aos efeitos da pandemia em vários setores e os reflexos de um ano eleitoral que tende a ser turbulento, podem comprometer a plena retomada da economia brasileira em relação ao cenário global. Por outro lado, os indicadores positivos de Santa Catarina devem manter o estado em um ambiente mais favorável em relação a outras regiões do País.
As duas sinalizações foram compartilhadas pelo economista-chefe do Banco do Brasil, Marcelo Rebelo Lopes, e pela jornalista e comentarista de economia Estela Benetti, na segunda-feira (18), no Encontro Empresarial da ACIJS. A primeira edição do ano do tradicional evento da entidade contou com a presença de um bom público, marcando a retomada de agendas corporativas presenciais no CEJAS – Centro Empresarial de Jaraguá do Sul.
O painel “Como construir confiança na economia brasileira em 2022” teve como mediadora a presidente da ACIJS e do CEJAS, Ana Clara Franzner Chiodini. Ela destacou o evento como mais uma oportunidade para reunir associados, empresas da região e lideranças da comunidade em torno de uma pauta importante, após dois anos de enfrentamento do quadro mais crítico da pandemia de coronavírus e de busca a retomada da normalidade em todos os ambientes da sociedade.
Marcelo Rebelo traçou um panorama global a partir das análises da área econômica do Banco do Brasil. Mestre em economia, com especialização em mercados de capitais e, também, com formação em comunicação social, Marcelo atuou por 13 anos no mercado financeiro e pesquisa macroeconômica junto à BBDTVM, gestora de recursos do BB, exerceu a função de especialista de investimentos de 2017 a 2018 e de economista-chefe da mesma BBDTVM de 2019 a 2021, assumindo em dezembro do ano passado a função atual economista-chefe do BB. Segundo ele, as projeções já indicavam que 2022 seria um ano de desafios, não só pelos efeitos da pandemia e a sinalização de uma recuperação econômica marcada pelas influências no câmbio, pela chegada de um período eleitoral, mas desde o acirramento nas relações entre Rússia e Ucrânia mostrando dificuldades ainda maiores.
Os estudos do BB, assinala Marcelo Rebelo, apontam para uma duração do conflito entre os dois países ao longo do segundo trimestre, com risco de mais violência e a ampliação de sanções à Rússia que pode trazer uma pressão ainda maior sobre preços de commodities, afetando ainda mais setores como de energia, gás e alimentos, e agravando um momento de forte pressão inflacionária e a aceleração do processo de aperto monetário em termos globais. No ambiente interno, explica Marcelo, o real tem apresentado valorização que surpreende o mercado, com expectativa de que a taxa de câmbio encerre o ano a R$ 5,00 e chegue a R$ 4,80 em 2023. A análise do cenário econômico regional mostra o centro-oestecomo a região mais dinâmica em 2022, mas no quadro geral um crescimento mais lento da população ocupada e projeção de que a Selic se mantenha em patamar elevado por mais tempo.
Em relação a Santa Catarina, Estela Benetti faz uma leitura mais otimista. Apoiada nos bons índices que o estado mantém na média brasileira, com crescimento na atividade da indústria, comércio e serviços, além do desempenho da agroindústria, o posicionamento é de que a economia catarinense continue sendo mais resiliente diante de uma crise global. A favor do estado, aponta, figuram os dados de ocupação de postos de trabalho apurados pelo Caged, com geração de 167,8 mil novos empregos em 2021 e taxa de desocupação de 4,3% em dezembro contra 11,2% no Brasil. A melhor competitividade do estado também é indicada nas projeções de investimentos, com previsão de aplicação de R$ 10 bilhões em projetos empresariais. Como principais obstáculos, a inflação acima de 7% em 2022, a taxa básica de juros próxima de 13% e os efeitos indiretos da guerra entre Rússia e Ucrânia podem se tornar elementos inibidores.
Estela Benetti, que também tem formação em ciências econômicas, ressalta que Jaraguá do Sul e região tendem a acompanhar o ritmo estadual, com atividade econômica acima da média, pela característica de preservar uma matriz econômica diversificada e dinâmica, mas observa a importância do investimento em educação e inovação, preparando a região e o estado para atender maior demanda voltada à tecnologia e à internacionalização.
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