O conflito de gerações entre fundadores de empresas e seus sucessores tem nas boas práticas de governança um caminho para que negócios familiares sejam fortalecidos e permaneçam duradouros.
O tema pautou painel que reuniu especialistas no Encontro Empresarial da ACIJS, realizado em parceria com o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, nesta quinta-feira (27), no Centro Empresarial de Jaraguá do Sul. O evento debateu a importância do assunto estar cada vez mais presente na agenda de empresas que tiveram origem em negócios de família e que, mesmo com a profissionalização de seus executivos, mantenham graus de parentescos nos empreendimentos.
Fazer a gestão adequada de eventuais conflitos familiares, apontam os convidados do painel “Sucessão nas Empresas Familiares – Encontro entre Gerações”, é uma condição determinante à sustentabilidade das empresas, de maneira longeva e competitiva no mercado.
Painel reuniu especialistas no Centro Empresarial de Jaraguá do Sul nesta quinta-feira, dia 27 – fotos de CAROLINE STINGHEN
A presidente da ACIJS e do Centro Empresarial, Ana Clara Franzner Chiodini, lembra que o assunto é mais do que oportuno, necessário, considerando o perfil de grande parte dos empreendimentos que, segundo dados apresentados no painel, representam 90% das companhias no Brasil.
“É um tema de extrema relevância para as empresas e para as famílias empresárias, porque está conectado com a própria continuidade do negócio”, reforçou Ana Clara. Assinala ainda que o painel oportunizou fortalecer um dos pilares da entidade, que está comemorando 85 anos de fundação, como motivadora do desenvolvimento empresarial na região.
“Temos um legado muito importante de comprometimento com o associativismo, em que acreditamos verdadeiramente na construção conjunta e na troca de conhecimento para evoluirmos nos negócios e também como sociedade”, completa. Assinala que o aprimoramento das práticas de gestão está integrado com iniciativas que a ACIJS vem colocando em prática, como programas de educação empresarial que ajudam no desenvolvimento cada vez mais sustentável das empresas da região.
Zélia Breithaupt Janssen, consultora de empresas que atua no comitê coordenador do capítulo Santa Catarina do IBGC, disse que a proposta do fórum foi a de promover uma contextualização sobre a sucessão nas empresas familiares, apresentando conceitos que ajudem as pessoas envolvidas nesse processo a melhor compreendê-lo e assim se prepararem para dar sequência ao legado de empreendimentos por seus antecessores. Bisneta de fundadores da ACIJS, e filha de ex-presidente, Zélia destaca como um dos princípios da governança o compromisso de perpetuar o legado de empreendedores que trabalham por uma sociedade melhor.
Valéria Café, diretora do IBGC, explica que a entidade atua na geração de conhecimento, através do desenvolvimento de pesquisa e projetos de educação que oportuniza cursos e eventos, e o acompanhamento de regulações, visando manter e elevar a qualidade da governança corporativa no Brasil. Conta com mais de 3 mil associados e 600 voluntários que atuam para levar a governança para dentro das empresas e na integração dos três setores – público, privado e de organizações sociais – em temas estratégicos como inovação e transformação digital, diversidade e inclusão, fatores e questões ambientais e sociais, ética e integridade, conselhos do futuro, responsabilidade dos administradores, governança da família empresária, e transparência e prestação de contas. A agenda em Jaraguá do Sul, explicou, está inserida na programação que o IBGC mantém em todo o País durante o ano.
Eliete Martins, da consultoria KPMG do Brasil, explanou sobre o perfil de empresas familiares no Brasil, apresentando dados de pesquisa sobre a estrutura e as práticas de governança adotadas por companhias com esta característica. Os dados mostram que entre as principais incertezas apontadas no ambiente de empresas familiares estão as questões políticas e econômicas e suas influências nos negócios. Por outro lado, razões de sucesso são atribuídas às boas práticas de governança corporativa, preparação e capacidade demonstrados pelos sucessores, harmonia e comunicação entre as gerações da família, comunicação com a família sobre o negócio, entre outros fatores. A pesquisa também mostra que ações de desenvolvimento são consideradas no processo, como programas executivos específicos para a formação de sucessores no Brasil, coaching e mentoria com especialista ou profissional da própria empresa, entre outras.
Leia Wessling, sócia-diretora da Light Source Cultura, Gestão e Governança, conselheira de administração e coordenadora geral do capítulo Santa Catarina do IBGC, falou sobre a importância de mostrar o potencial de talentos nas empresas familiares. Segundo ela, a sucessão deve ser um processo planejado de preparação para a descentralização de poder nas empresas, por meio da transição gerencial e da aquisição de novas competências. Quanto à importância de se falar do assunto, menciona estudos que mostram que até 2050 todas as empresas de capital fechado e familiares perderão seu proprietário principal, por aposentadoria ou morte, na América e na Itália e que até 2040 aproximadamente U$ 10,4 trilhões de patrimônio líquido serão transferidos para as próximas gerações de empresas familiares. Outro dado aponta que 55% das empresas familiares ainda não dispõem de desenvolvimento sucessório.
“Sucessão é um processo cíclico e contínuo que envolve diálogo, aprendizagem e relacionamento entre sucessores e sucedidos. Os ciclos geracionais se entrelaçam na família, na propriedade e nos negócios”, disse, reforçando que o fio condutor da sucessão é a governança corporativa e da família empresária. Conflitos gerenciais podem ser evitados, explica, quando a família empresária, e cada um de seus membros, passam a dedicar tempo para o autoconhecimento, o diálogo, a empatia e o senso de pertencimento. “Sucessão é um processo que não deve ser postergado. Não é cedo, nem tarde demais, o momento certo da sucessão é quando a próxima geração estiver preparada, mais do que desejando liderar é estar preparada para liderar”, completa.
Completando o painel, Aloir Librelato, presidente do conselho de administração e sócio majoritário da Librelato S.A. e o filho, João Vitor Librelato, gestor de Estratégia e Inovação, apresentaram como a empresa trata a governança no ambiente familiar. Com unidades em Içara e Criciúma, no Sul do estado, a Librelato tem sua origem em 1969 a partir de uma pequena serraria fundada pelo pai de Aloir, Berto Librelato. Da primeira carroceria de madeira, a empresa solidificou sua atuação no segmento de implementos rodoviários e hoje atua no mercado nacional e exterior.
Eloir contou que a transição do modelo de gestão, buscando aumento de capital e preservando a presença da família na empresa, permitiu à Librelato crescer no mercado e a diversificar o portfólio de negócios. Hoje, é formada por uma holding que concentra as atividades da montadora de implementos rodoviários, o fornecimento de autopeças, e em operação de serviços e tecnologia no setor de transportes. Além de atuar em todo o Brasil, exporta para países como Chile, Paraguai, Uruguai, Bolívia e África. A empresa é a terceira maior fabricante de implementos rodoviários do Brasil, conta com mais de mais de dois mil clientes e emprega 2 mil funcionários.