Catarinense de Paulo Lopes, município da região da Grande Florianópolis e há 13 anos atuando em Brasília como consultora de relações governamentais, a economista Rosilda Prates ressaltou em conversa com empresários na plenária da ACIJS, na segunda-feira, que a habilidade na interlocução com o setor público é essencial para que o ecossistema do qual a iniciativa privada faz parte se fortaleça.
“É legítimo e imprescindível fazer esta articulação com as esferas seja municipal, estadual ou federal. O governo tanto dá o mercado, define as políticas públicas e as regulações, como tira mercado de empresas se não houver atenção com muitas decisões tomadas em Brasília. Estar acompanhando os direcionamentos políticos não é apenas necessário como fundamental, é preciso perceber o governo como parceiro e não como inimigo”, indica a especialista.
Com formação em comércio exterior e MBA em economia e gestão, entre outras especializações, Rosilda contou que passou a entender o ambiente da capital federal por conta de função executiva como gerente do antigo BESC em Brasília, onde atuou na década de 1990.
A experiência na lide com diversos níveis do poder público estimulou a criação da Hexa Brasil, consultoria dedicada às relações com governos, da qual é sócia-fundadora e diretora executiva, função que divide com a atuação na P&D Brasil – Associação de Empresas de Desenvolvimento Tecnológico Nacional e Inovação.
O foco principal da empresa é estabelecer conexões de diálogo da indústria, dos municípios e das organizações com o governo de maneira estruturada. “Fazemos a interlocução com o governo nas questões de políticas públicas com o objetivo de melhorar o ambiente tributário, esmiuçando medidas políticas e mitigando seus riscos, com isto ampliando as oportunidades de investimentos. É uma atuação de apoio às estratégias das empresas ou de segmentos que se relacionam com o poder público”.
Destaca a importância de discutir de maneira profissional, no momento certo e com os canais competentes do governo federal, agências reguladoras, instituições de financiamentos e Poder Legislativo, no sentido de conhecer regras, propor ajustes e assim contribuir para a modernização do ambiente regulatório e com o ambiente político, “de maneira transparente e totalmente ética”, sublinha. Segundo Rosilda Prates, o trabalho de articulação é pautado pelo Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, um movimento nacional que historicamente vem alinhando posicionamentos de lideranças do setor produtivo junto ao governo na busca de moralidade nas ações públicas e seus efeitos na sociedade.
“As empresas precisam cada vez mais exercer a sua condição de transformadoras da sociedade, não somente pensando no resultado do negócio, mas principalmente na geração de impactos sociais positivos. As ações de relações governamentais se orientam nos bons relacionamentos, com diagnósticos e inteligência nas estratégias, um sistema que seja capaz de se retroalimentar de informações, com engajamento e agendas técnicas que auxiliem o governo que, por sua vez, não pode pensar em políticas públicas sem levar em consideração as preocupações do setor produtivo”. Rosilda sustenta que se trata de um trabalho que valoriza a participação empresarial, o quanto as empresas são importantes no desenvolvimento das cadeias produtivas e a contribuição com postos de trabalho, com empregos de alta qualificação, na geração de riquezas e na arrecadação que começa nos municípios e forma o PIB nacional.
Um aspecto que ela salienta é a necessidade de as empresas ou organizações encontrarem condições que lhes assegure previsibilidade às tomadas de decisão, com acompanhamento in loco das agendas com as quais o governo trabalha e que podem trazer impacto na atividade empresarial. Ela legitima a atuação ao considerar que “não há razoabilidade a nenhuma empresa atuar em um ambiente regulado que não se preocupe com decisões do governo. Portanto, é fundamental pensar que o governo sempre editará medidas que são positivas para a sustentabilidade do setor público, mas mitigando eventuais impactos negativos às empresas”.
Na fala aos empresários, a especialista fez referência à perda de posições de Jaraguá do Sul na economia catarinense. Citou conhecer que a cidade já foi a terceira maior economia do Estado, alcançou a quinta posição e hoje ocupa o oitavo posto. “É uma provocação aos empresários locais quanto à necessidade de se debater todo o ecossistema do qual o município faz parte, buscando uma interlocução entre os atores, se mobilizando em uma agenda comum com o poder público, porque é certo que se este trabalho for mais incisivo este ranking será alterado”, orienta, ao mencionar o perfil da região e o movimento que se observa na área de inovação.
“Esta é uma área fundamental ao desenvolvimento, porque ela gera muitas oportunidades de mercado, mas estes investimentos precisam assegurar a sustentabilidade como um todo. Não se deve pensar a inovação somente do ponto de vista da tecnologia, ela está na gestão das empresas, desde o RH ao setor de compras de matérias primas, na comercialização, enfim, a inovação está em todas as etapas do processo produtivo. As empresas precisam conversar entre si sobre estas questões, de forma a assegurar um ecossistema que favoreça o desenvolvimento de todas as cadeias produtivas, do mesmo modo que precisam se articular, individualmente ou por meio das suas entidades representativas, com o poder público para que as decisões políticas estejam alinhadas a objetivos comuns de toda a sociedade”.