Santa Catarina e o Brasil vão exigir, em 2023, maior capacidade de articulação política e esforço ainda maior do setor produtivo para superar dificuldades que impedem o crescimento econômico com sustentabilidade.
Os maiores desafios são a aceleração de investimentos na infraestrutura e no avanço tecnológico, levando à maior competitividade da indústria no mercado global. O controle do déficit público e a reforma tributária estão entre as prioridades para reverter o atual quadro de estagnação econômica.
Os cenários político e economia do estado e do País foram apresentados pelo economista-chefe da FIESC, Pablo Bittencourt, e pelo jornalista e consultor político Upiara Boschi, durante painel no Encontro Empresarial ACIJS, nesta segunda-feira (20) no Centro Empresarial de Jaraguá do Sul.
Mediando as falas, a presidente da ACIJS, Ana Clara Franzner Chiodini, destacou a importância da análise para o ambiente empresarial, pois conhecer o direcionamento do estado e do País em decisões que passam pela esfera político-administrativa é determinante no planejamento do setor produtivo.
Analisando o dia a dia da política estadual, como profissional de imprensa há 16 anos e, mais recentemente, prestando consultoria à entidades como a Federação de Associações de Municípios (Fecam) e de Associações Empresariais (Facisc), Upiara avalia que uma das travas para que o Brasil avance é a polarização política. “É preciso construir uma saída, o atual debate polarizado não resolve os problemas de infraestrutura e necessidades em outras áreas”, aponta. Muitas das questões que geram dificuldades da classe empresarial, ressalta Upiara, foram pleitos que a FACISC vem apresentando nos períodos eleitorais com o projeto Voz Única, com indicações de prioridades em todas as regiões do Estado, entregues em documento aos candidatos.
Para o jornalista, é importante que a classe política leve em conta interesses maiores e não se pautem por diferenças ideológicas que tornam o que deveria ser diálogo uma extensão das eleições. Segundo ele, o Fórum Parlamentar e o Governo do Estado devem atuar mais integrados, na pressão por investimentos necessários como a melhoria em rodovias com recursos de orçamento federal. Há sinalizações do Ministério dos Transportes, mas é preciso pressão das bancadas, do governador e de lideranças de setores organizados como o meio empresarial para a garantia de repasses. A reforma administrativa anunciada pelo governador Jorginho Mello, entende, deve dar mais dinâmica à atual gestão, que valoriza setores importantes ao desenvolvimento econômico que estavam ‘comprimidos’ no governo anterior, como é o caso da área da inovação.
Na avaliação do cenário internacional e os reflexos em Santa Catarina e no Brasil, Pablo Bittencourt relacionou o avanço de países com forte presença no mercado global, como EUA e China, e o quadro de estagnação da economia brasileira. Um ponto comum que ele aponta em regiões onde as economias estão mais fortes, considera a maior capacidade tecnológica que leva ao desenvolvimento com sustentabilidade.
“Há um movimento de transformação da economia mundial, com mudanças estruturais em que os investimentos em tecnologia têm relação com o crescimento do PIB, como a China, que nos últimos anos apresenta um esforço tecnológico e se mantém competitiva”, afirma. A reindustrialização é um fator importante nesta direção, assinala, indicando que o Brasil deve seguir o mesmo caminho se priorizar investimentos em áreas estratégicas que levem ao aumento da capacidade da indústria em relação a concorrentes externos.
Atualmente, explica, existem apenas medidas esparsas de incentivo e apoio setorial à indústria, os recursos públicos direcionados à indústria são desproporcionalmente inferiores à contribuição da indústria para a economia brasileira. Os indicadores mostram que o Brasil está ficando para trás na corrida pela competitividade. O economista da FIESC relaciona a reforma tributária como ponto chave para a retomada de crescimento do Brasil.
“O sistema tributário no Brasil não favorece a indústria”, disse Pablo, mencionando a estatística mundial. Em 2019, o Brasil precisou de mais de 1.500 horas para calcular e pagar os tributos, contrastando com países como EUA (153 horas) e a China (138 horas). “A grande batalha é a aprovação da reforma tributária, é a que tem o maior impacto para um aumento de 20% no PIB”, completa. O arcabouço fiscal a ser anunciado pelo governo, com expectativa do mercado de maior controle no gasto público, menos pressão tributária e foco em investimentos sociais, também pode ajudar o País na retomada do crescimento.
O evento foi realizado em parceria da ACIJS e FIESC, com apoio da Levmed e SicoobCejasCred.
>>> Confira o painel na íntegra >