Entidades que representam o setor produtivo de Santa Catarina têm manifestado preocupação diante do aumento de tarifas às exportações, confirmado pelo governo dos Estados Unidos nesta quarta-feira (30). Desde que o presidente norte-americano Donald Trump fez o anúncio das medidas que impõem taxação de 50%, definido para valer a partir de 1º de agosto, a Federação das Indústrias (FIESC) e das Associações Empresariais (FACISC) se posicionam diante dos efeitos na economia estadual.
O presidente da FIESC, Mario Cezar de Aguiar, reitera a necessidade de manutenção dos canais de negociação pela diplomacia brasileira, sob pena da situação se agravar com o cancelamento de investimentos no Brasil. Avalia que é necessário trabalhar com serenidade pela melhor solução e considerando os interesses do Brasil.

Tarifas de importação de 50% pelos EUA ameaçam 110 mil empregos no Brasil, diz CNI. (Foto: Freepik)
Na segunda-feira, dia 28, a FIESC realizou reunião aberta do Comitê de Crise do Tarifaço dos EUA. No encontro, foi apresentada pesquisa para medir os impactos potenciais da elevação das tarifas de importação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos para 50%. A partir de uma compreensão mais profunda dos efeitos para a indústria e a economia catarinense, a FIESC pretende ampliar sua contribuição para políticas públicas para fazer frente à situação.
“Estamos muito preocupados com o potencial impacto, porque SC tem uma característica muito singular, com segmentos diferentes sendo afetados em proporções distintas”, explicou o economista-chefe da FIESC, Pablo Bittencourt. Santa Catarina é o segundo estado com maior impacto negativo sobre o PIB, de 0,31%, atrás apenas do Amazonas, explicou, segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Em SC, 22,2% da produção do setor de produtos de madeira é exportada para os EUA. No setor de móveis, 12,1% do que é fabricado têm os Estados Unidos como destino”, destacou, citando dois dos segmentos que mais têm manifestado preocupação.
A FIESC já iniciou a articulação com o governo do estado, que solicitou informações robustas para avaliar as ações propostas pela entidade.
>>> Os exportadores podem responder ao questionário por meio do link: https://forms.gle/PqhMfZVpm8wbXuSJ6
Por sua vez, a FACISC entende que, diante da proximidade do prazo de validade das tarifas impostas aos produtos brasileiros exige do governo federal atuação com a máxima eficiência e agilidade. Enquanto outros países, como Japão, Indonésia e Filipinas, conseguiram estabelecer acordos recentes com a Casa Branca e reduzir suas tarifas, o Brasil permanece com dificuldades de estabelecer canais oficiais de diálogo. Isso coloca em risco a continuidade de um volume importante de exportações e de muitas empresas catarinenses.
A entidade, que atualmente representa 45.318 empresas no estado, reforça sua preocupação e exige celeridade máxima na condução das negociações entre o Governo Federal e os Estados Unidos. Além disso, a Federação solicita maior transparência nas tratativas em andamento, de modo a diminuir a incerteza econômica que aflige o setor empresarial. A falta de clareza sobre as ações e canais de negociação, somada ao curto prazo restante até a implementação das tarifas, tem causado grande preocupação no setor produtivo.
CNI mantém canal direto com governo federal
A mobilização das indústrias para responder às questões elaboradas pela FIESC junta-se a iniciativas já em andamento via Confederação Nacional da Indústria (CNI), de reuniões com o vice-presidente Geraldo Alckmin e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e à articulação com o governo de SC.
Os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações catarinenses. No ano passado, o estado embarcou para lá US$ 1,74 bilhão, na sua maioria itens manufaturados, como produtos de madeira, motores elétricos, partes de motor e cerâmica.
EUA têm superávit de US$ 256,9 bi com Brasil
Brasil e Estados Unidos sustentam uma relação econômica robusta, estratégica e mutuamente benéfica alicerçada em 200 anos de parceria. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o aumento da tarifa terá impacto significativo na competitividade de cerca de 10 mil empresas brasileiras que exportam para os Estados Unidos.
O país norte-americano mantém superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos. Somente na última década, o superávit norte-americano foi de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens. Incluindo o comércio de serviços, o superávit americano atinge US$ 256,9 bilhões. Entre as principais economias do mundo, o Brasil é um dos poucos países com superávit a favor dos EUA.
A CNI aponta também que a entrada de produtos norte-americanos no Brasil estava sujeita a uma tarifa real de importação de 2,7% em 2023. A tarifa efetiva aplicada pelo Brasil aos Estados Unidos foi quatro vezes menor do que a tarifa nominal, de 11,2%, assumida no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). (Com informações da FIESC, FACISC e CNI).