O anúncio de que, após mais de 20 anos de negociação, Mercosul e União Europeia finalmente chegaram aos termos finais para fechar um acordo de livre comércio entre países dos dois blocos na sexta-feira (28) traz boas perspectivas para economia brasileira, com reflexos na região do Vale do Itapocu
O presidente da ACIJS e do Centro Empresarial do Vale do Itapocu, Anselmo Luiz Jorge Ramos, avalia que as consequências de um acordo deste nível sempre são positivas, mas que certamente elas trarão impacto nos dois macroambientes.
“É uma oportunidade que se abre para que empresas já posicionadas no mercado global ampliem seus negócios, ao mesmo tempo que outras companhias, de pequeno, médio e grande porte, se desenvolvam neste ambiente. Mas elas precisam estar preparadas para conviver com um cenário que traz mais competitividade na medida em que haverá maior concorrência. Isto salutar para a economia como um todo”, pondera.
O empresário vê avanços nas tratativas, lembrando que há mais de 20 anos o assunto está na pauta de autoridades de Mercosul e UE. “Esta demora demonstra como há questões complexas que envolvem a abertura de mercados, como é difícil se chegar a um entendimento em fatores complexos como a questão das barreiras tarifárias”, disse, lembrando que embora ainda não se tenha detalhes mais específicos do acordo, a região certamente será beneficiada, principalmente em segmentos que tradicionalmente apresentam bom desempenho nas exportações. Como em qualquer via de mão dupla, observa que produtos do continente europeu poderão entrar no mercado nacional com mais agressividade, oferecendo preços mais competitivos. “Devemos ser cautelosos para enfrentarmos estes novos desafios, mas as perspectivas são otimistas”, conclui Anselmo.
Conforme comunicado oficial feito pela comissão europeia, confirmado pelo governo brasileiro, “chegou-se a um acordo político para um acordo comercial ambicioso, equilibrado e abrangente, que consolidará uma parceria política e econômica estratégica e criará oportunidades significativas para o crescimento sustentável de ambas as partes, respeitando o ambiente e preservando os interesses dos consumidores e setores econômicos sensíveis”.
E é justamente por isso que a presidente da Câmara de Comércio Exterior da FIESC, Maria Teresa Bustamante, embora sublinhe que se trata de um momento histórico, ainda é cautelosa ao prognosticar quais serão os setores industriais catarinenses mais beneficiados ou em estabelecer prazos para que o anúncio se transforme em resultados práticos, como a efetiva redução das tarifas.
“O acordo abre ótimas perspectivas e deve ser celebrado. Mas ainda precisa ser ratificado pelo Parlamento Europeu, num processo que pode levar até dois anos”, diz Maria Teresa. “Além disso, o documento com os termos do que foi acordado ainda não foi divulgado e, por isso, neste momento não podemos dimensionar exatamente os impactos efetivos e os setores mais afetados”, completa.
Entre as questões que ainda não estão claras para o setor empresarial é o que foi definido em aspectos como cotas para exportação de carnes bovina e de aves, setor automotivo e utilização de benefícios fiscais, como o drawback. “Há de se reconhecer que este acordo talvez seja o primeiro que o Mercosul pretende de fato assinar com cláusula de acordo de última geração, que já não privilegia apenas a redução tarifária, e sim aspectos como defesa comercial, aspectos regulatórios, questões trabalhistas e de meio ambiente”, diz Maria Teresa. [Com informações da FIESC – Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina]